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O terceiro setor é geralmente composto por organizações sociais, sem fins lucrativos, cujo objetivo é promover o desenvolvimento social, possibilitando equidade de oportunidades e o combate às vulnerabilidades socioeconômicas. Em muitas dessas organizações, as mulheres desempenham um papel fundamental na liderança e na promoção da igualdade de gênero. Entretanto, mesmo nesses locais, a desigualdade de gênero ainda é uma realidade que precisa ser discutida e superada. 

De acordo com a ONU Mulheres, as mulheres são frequentemente sub-representadas em posições de liderança, e a disparidade salarial de gênero é uma realidade em muitas organizações da sociedade civil. Além disso, a desigualdade de gênero pode ser uma barreira para o acesso das mulheres a oportunidades de capacitação, desenvolvimento profissional, e ainda contribuir para violências e para a falta de representação política. 

No entanto, estudos mostram que a presença de mulheres em cargos de liderança tende a trazer benefícios, incluindo maior inovação e melhorias na gestão como um todo. Um relatório da McKinsey & Company, por exemplo, revelou que instituições com maior diversidade de gênero em suas lideranças tiveram um desempenho institucional superior em comparação com organizações que não priorizam a igualdade de gênero. 

A participação feminina na luta pela igualdade de gênero pode inspirar outras mulheres e pessoas não-binárias a se engajarem nas causas feministas e se tornarem agentes de transformação social. A presença de mulheres em organizações também pode contribuir para desconstruir estereótipos e preconceitos, contribuindo para a promoção de ambientes mais justos e igualitários. 

Por meio de uma iniciativa voltada ao desenvolvimento de organizações da sociedade civil, a Fundação André e Lucia Maggi (FALM) é uma instituição que também apoia a o fortalecimento institucional, por meio de projetos que são tanto liderados por mulheres quanto voltados para a pauta da igualdade de gênero. Saiba mais sobre o Programa Crescendo com o Local

Agora, que tal conhecer seis lideranças femininas do terceiro setor? Vamos apresentar aqui seis mulheres do interior do Amazonas, Mato Grosso e Rondônia. Elas têm se destacado na luta pela igualdade, no combate às violências e empoderamento feminino e de pessoas não-binárias, além de ações voltadas para a transformação social. Saiba mais sobre elas e seus trabalhos e inspire-se! 

Andreza Oliveira – Instituto de Amparo à Mulher (Itacoatiara, Amazonas) 

Assistente social e pós-graduada em Gestão em Serviço Social e Projeto Sociais, Andreza atua como Coordenadora Geral do Instituto de Amparo à Mulher, uma organização que promove o acolhimento para cerca de 200 mulheres em situação de violência ou de vulnerabilidade em Itacoatiara (AM). A organização também abrange trabalhos na zona rural, atendendo mulheres ribeirinhas, indígenas e quilombolas, muitas vezes localizadas em comunidades remotas. 

“São mulheres chefes de família, desempregadas ou sem renda, com trabalhos informais e renda familiar até um salário-mínimo. Muitas delas têm uma grande quantidade de filhos, sustentam sozinhas a casa e já sofreram algum tipo de violência, seja ela física ou psicológica. Então o nosso trabalho vem para fortalecê-las, com mobilização, palestras motivacionais, rodas de conversa, encaminhamento para redes de proteção e políticas públicas”.  

Segundo ela, quando a organização conhece a realidade e trabalha com foco no acolhimento, isso contribui para amparar de uma forma mais humanitária as mulheres em situação de vulnerabilidade. “Um dos assuntos que mais abordamos é a desigualdade de gênero, justamente porque a maioria delas enfrenta diariamente o machismo e preconceitos de cor, raça ou religião. Então, nós trabalhamos para que elas se sintam acolhidas, à vontade para se abrir, e tenham conhecimento dos seus direitos, oportunidades, além de se fortalecerem enquanto grupo e indivíduos”. 

Carolina Barros – Instituto Inrede (Cuiabá, Mato Grosso) 

Gradua em Licenciatura em Música pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e pós-graduada em Gestão Cultural Contemporânea, Carolina Barros é Diretora Geral do Instituto Inrede desde 2021. A organização social e sem fins lucrativos foi fundada em 2008 e trabalha nos campos da cultura, do desenvolvimento comunitário e da gestão de outras organizações sociais.  

Segundo ela, a questão de gênero sempre atravessou as vivências do Instituto Inrede, cuja diretoria 100% feminina. Entretanto, um dos maiores gargalos encontrados, enquanto gestoras de uma organização social, é a deslegitimação do trabalho. “Esse é o nosso desafio. Nós precisamos falar um pouco mais alto para podermos ser ouvidas, mesmo possuindo currículos extremamente habilitados, tendo expertise na área”.  

Para superar essas barreiras, o Inrede trabalha diretamente com ações que atravessam o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5, Igualdade de Gênero. “Nós colocamos como meta que a equidade de gênero seria uma máxima em nosso planejamento e em nossas ações. Decidimos que teríamos uma diretoria feminina e que faríamos desse local um ambiente que nós gostaríamos de conviver: seguro, justo, onde qualquer pessoa pudesse se expressar, com todas as suas potencialidades, livre de violências, e sem ter que imprimir mais força do que necessário para realizar os trabalhos”. 

Giuseppina Fulco – Associação Casa Família Rosetta (Porto Velho, Rondônia)

 

Giuseppina faz parte do Conselho Diretor e é tesoureira da Casa Família Rosetta, uma instituição sem fins lucrativos, criada em 1992 em Porto Velho (RO), e destinada ao atendimento de crianças com deficiências neurológicas e pessoas com dependência química. Giusi, como também é conhecida, é formada em Serviço Social e Gestão de Organizações do Terceiro Setor e atua há mais de 30 anos na área. 

Ela acredita que é possível incentivar não apenas a participação feminina, mas também o pleno engajamento de outras mulheres na luta por causas sociais. “Acredito muito no poder do encontro que transforma. No terceiro setor, de forma geral, a presença de lideranças femininas é bem marcante e eu acredito que a gente pode envolver mais as pessoas, a partir do próprio público que a gente atende, que é formado também por mulheres e mães.” 

Segundo ela, seria importante fomentar redes de pessoas e de mulheres líderes e promover, por meio de redes sociais, plataformas e fóruns, trocas de experiência. “Existem líderes mulheres que acabam carregando nas costas e sozinhas uma organização ou um projeto social. É só pensar o quanto a troca com outras mulheres e outras pessoas ajudaria a abrir horizontes e a contribuir nas tomadas de decisão. Acredito que as mulheres podem contribuir para um olhar inclusivo, construindo uma sociedade mais justa e igualitária, com respeito à diversidade e às diferenças”.

Joyce Lombardi – Instituto Estadual Sementes do Bem (Cuiabá, Mato Grosso) 

Terapeuta Alternativa e Acupunturista e graduanda em Marketing Digital, Joyce é Vice-Presidente do Instituto Estadual Sementes do Bem (IESB), uma instituição social que atua desde 2015, com sede em Cuiabá (MT). A organização iniciou os trabalhos com o propósito de acolher e cuidar da comunidade por meio de terapias multidisciplinares e práticas integrativas. Hoje, trabalha com projetos voltados à educação, inclusão digital e atendimento socioassistencial, além de capacitações sobre direitos das mulheres. 

Segundo ela, o quadro de colaboradores da diretoria do IESB é composto por 70% de mulheres. Mesmo assim, concorda que a discriminação e a desigualdade de gênero, quando afetam lideranças femininas do terceiro setor, são uma realidade a ser combatida. “É importante dar visibilidade às mulheres no terceiro setor, pois elas enfrentam muitos desafios, mas podem abrir portas para outras entrarem. É claro que seria muito melhor se não vivêssemos em um país racista, misógino e intolerante, mas nós temos muita gente comprometida e muita mulher que quer ser uma liderança no terceiro setor para mudar a vida de outras pessoas ao seu redor”. 

Para Joyce, ser uma liderança feminina de uma organização social é uma forma de demonstrar o seu poder de acolhimento e de escuta. “Dessa forma, eu busco me lapidar, cada dia mais, para despertar uma humanidade gentil e colaborativa nos outros, para que as pessoas se integrem nos projetos da instituição e encontrem caminhos para se profissionalizar, para seguir seus sonhos e realizações”.  

Maria Fernanda Figueiredo – Diretora Executiva da Lírios (Várzea Grande, Mato Grosso) 

Empresária, graduada em Matemática e com mestrado em Estatística, Maria Fernanda é Diretora Executiva da Lírios, uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2013 para auxiliar mulheres em situação de violência. Por meio de apoio psicossocial gratuito, a Lírios ampara a reconstrução da autoestima e reestruturação da vida de mulheres e crianças vítimas de diversas formas de violência. 

Segundo ela, o trabalho é feito de forma terapêutica. “As mulheres e meninas fazem terapias, por meio de encontros semanais com psicólogos, e esses tratamentos podem durar vários anos, dependendo do caso de cada uma. Elas recebem acolhimento e atendimento social e também temos cursos esporádicos para fomentar o empreendedorismo”. 

Levar a sociedade a se conscientizar sobre os papéis de gênero é, de acordo com Maria Fernanda, um caminho para combater desigualdades. “Quem de nós consegue andar na rua, à noite, sozinha, de forma segura? Quem de nós consegue andar num ônibus, sem correr risco de assédio? Nós não somos livres, nós não temos liberdade de ir e vir. Então eu acredito que a gente pode conscientizar, educar as pessoas sobre questões de gênero. As mulheres, se orientadas, acolhidas ou representadas, ganham mais força e coragem para serem o que são e exigirem os direitos que têm”. 

Tânia de Matos – Presidente da ABMCJ-MT (Várzea Grande, Mato Grosso) 

Graduada em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e especialista em Ciências Penais, Tânia é presidente da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica de Mato Grosso (ABMCJ-MT), uma organização social que contribui para a igualdade de gênero, por meio de projetos voltados à defesa dos direitos das mulheres enquanto cidadãs. 

De acordo com ela, o tema ainda envolve preconceitos em relação à pauta da não-discriminação de gênero e, no caso do trabalho realizado pela Associação, algumas barreiras para chegar até as mulheres. “Para conscientizar as mulheres de seus direitos e deveres como cidadãs, é preciso fazê-lo através do diálogo, sobretudo ouvindo o que elas têm a dizer, mas chegar até elas é um grande desafio, porque muitas têm jornadas triplas de trabalho”. 

Nesse sentido, Tânia acredita que as políticas públicas e as leis podem contribuir para a promoção da igualdade e da equidade de gênero. “As políticas públicas e as leis são extremamente importantes, mas nós só avançamos em diversos setores porque o nosso país construiu um Plano Nacional de Políticas para Mulheres e esse plano teve aporte orçamentário. É por isso que ninguém desenvolve políticas públicas e cumpre as leis se não tiver recursos financeiros”. 

No caso da Associação, ela conta que assumiu a função de presidente no início deste ano. “Os desafios envolvem vencer as barreiras que todas as mulheres encontram diariamente: temos muitas atribuições e pouco tempo para executá-las. Mas a diretoria da ABMCJ-MT é bem eclética, com companheiras valorosas. Todas nós estamos bem afinadas e cada uma, na medida do possível, abraçou uma tarefa, correndo atrás das oportunidades”. 

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